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domingo, novembro 26, 2017

Floresta e clima: Especialistas precisam-se

Num país de floresta mal gerida, só 23 alunos escolheram engenharia florestal
Primeiro debate sobre o tema "A Floresta Portuguesa em Causa", da UTAD, aflorou problemas na gestão dos territórios do interior do país.
ABEL COENTRÃO 13 de Setembro de 2016

Só uma pequena parte das Zonas de Intervenção Florestal consegue gerir as áreas que tem a seu cargo

Portugal tem pela frente o desafio de gerir melhor um terço do seu território ocupado por florestas mas o país corre o risco de, nos próximos anos, ter poucos quadros qualificados para o fazer. Na primeira fase, o curso de Engenharia florestal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro atraiu três candidatos, a que se somam os vinte que entraram na mesma licenciatura do Instituto Superior de Agronomia (ISA). “Se não há alunos, como vamos manter a funcionar os centros de investigação?”, questiona o catedrático Rui Cortes, da UTAD, lembrando que outras instituições já deixaram de oferecer esta formação que só não fecha em Vila Real porque a reitoria faz finca-pé no valor do curso para o futuro da região e do país.

Só uma pequena parte das Zonas de Intervenção Florestal consegue gerir as áreas que tem a seu cargoA importância da gestão do território (floresta incluída) para a diminuição do impacto dos incêndios, que em área ardida fazem já de 2016 o quarto pior ano das últimas quatro décadas, esteve bem presente nas múltiplas intervenções do primeiro debate do ciclo “A Floresta Portuguesa em Causa” organizado pelo Departamento de Ciências Florestais e Arquitectura Paisagística da UTAD. A plateia do pequeno auditório do Teatro de Vila Real estava cheia, entre alunos e professores que esta terça-feira ali quiseram ouvir alguns dos mais reconhecidos especialistas no sector procurar, entre os diagnósticos feitos há anos e as lições dos tempos mais recentes, caminhos para essa parte de Portugal que apenas é notícia – queixaram-se – quando arde.

Num país com 35% do território ocupado por floresta, detida esmagadoramente por privados, a invisibilidade do tema fora da “época” dos fogos atinge vários patamares. Um deles é o da formação, assinalou Rui Cortes em declarações ao PÚBLICO após o debate. “A floresta só é assunto pelo seu lado trágico. E isto não atrai os jovens”, admite este docente, preocupado com o futuro do sector. Mas o decréscimo de alunos na engenharia florestal acompanha o despovoamento do interior e a litoralização da população, que se afastou, física e mentalmente, de um mundo rural do qual a floresta era parte integrante.

O presidente do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, Rogério Rodrigues, considerou essencial voltar a criar nas pessoas a noção do valor das áreas florestais, chamando a atenção quer para o que, economicamente, elas valem e podem vir a valer, quer ainda para o que poderemos perder se continuarmos a desleixar a sua gestão. O especialista em Ecologia e Gestão do Fogo José Miguel Cardoso Pereira considera que o contraste entre o investimento anual no combate aos fogos e a despesa em prevenção provam esse afastamento da sociedade – responsáveis políticos incluídos.

“A prevenção é secundária porque a floresta é secundária. E o combate faz-se para proteger casas, pessoas, infraestruturas”, notou. O docente do ISA não pôs em causa essa prioridade, mas insistiu que a protecção da floresta não pode ser considerada uma tarefa colateral e subalternizada”. Palavras de quem lançou um dos desafios deste debate. Que Portugal reflicta sobre a sua “suposta vocação florestal” e se analise se não será melhor, face às capacidades do país, abdicar de dez a 15% da área ocupada com floresta mal gerida criando zonas tampão que, com outras actividades, possam quebrar as manchas de ocupação contínua. “Não vamos lá com faixas de contenção de 100 ou 150 metros”, alertou.

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